Palestra do Setembro Amarelo conscientizou público no Plenário da Câmara

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Quatro psicólogos falaram sobre suicídio

O Plenário Vereador Abílio Monte recebeu, na noite de terça-feira (4), a palestra “Escolha Falar, Escolha Viver” sobre suicídio. O evento integra o Setembro Amarelo da Câmara e foi realizado também pela Prefeitura de Itatiba, com apoio da Libra (Liga das Mulheres Eleitoras do Brasil), Jornal de Itatiba, ITV, CRN e Tem Itatiba.

Os psicólogos Amanda Lulio, Galvão Roson, Remus Stancu e Rosangela Leoni trataram diversos aspectos do tema suicídio, cada um em sua área de atuação.

Transtornos alimentares

A psicóloga Amanda Lulio abriu a mesa falando sobre transtornos alimentares. “Esses pacientes apresentam algum tipo de ansiedade ou depressão, e encontram na alimentação exagerada ou na sua privação a saciedade a esse vazio existencial”, disse.

Amanda falou sobre os transtornos alimentares mais comuns: anorexia, bulimia, ortorexia (obsessão por alimentação saudável), hipergrafia (obesidade gerada por estresse pós-traumático) e vigorexia (obsessão por corpo musculoso). “Os pacientes com transtorno alimentar precisam de acolhimento”, constatou.

Dados apontam que a taxa de suicídio em pacientes com bulimia é 7,5 vezes maior do que a população em geral. Já quem tem anorexia o risco é 31 vezes maior. “Às vezes, as mortes relacionadas ao transtorno alimentar ocorrem devido a complicações médicas, mas uma porcentagem substancial é devido ao suicídio”, afirmou a psicóloga.

O problema afeta particularmente os jovens, que são influenciados pelos padrões de beleza impostos pela mídia e pela própria família. Essa pressão ocasiona uma busca pelo corpo perfeito a qualquer custo, sem acompanhamento médico, prejudicando sua saúde.

Causas e tratamentos

Galvão Roson apresentou o processo que leva a pessoa ao suicídio, que envolve: ideação, planejamento, tentativa e o suicídio propriamente dito. Esses comportamentos, em geral, são motivados por crenças de desesperança.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo. Entre as causas, podem ser destacadas as dificuldades de acesso aos serviços de saúde; o estigma associado à busca de ajuda; trauma e abuso; transtornos por uso de substâncias; transtornos mentais; desesperança; dor crônica; e fatores genéticos.

É recomendável a essas pessoas o tratamento psiquiátrico e psicológico. Ele falou sobre sua abordagem, a terapia cognitivo-comportamental, que utiliza técnicas que visam reestruturação de pensamento, humor e comportamento do paciente.

“A empatia também é fundamental. É preciso ajudar a mostrar a essas pessoas sua verdadeira essência e realizações, além da possibilidade de mudança a partir da tomada de decisão nesse sentido”, disse Galvão.

Fatos e mitos

Remus Stancu, coordenador do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD), lembrou que o suicídio é um ato deliberado e não uma atitude inconsciente. “A ação parte do indivíduo. Mas nós que o circundamos também somos responsáveis”, disse.

Mais de 8 mil cometem suicídio todos os anos, sendo uma das três maiores causas de morte entre pessoas com idade entre 15 e 35 anos. No Brasil, de 2011 a 2016, foram 62.804 mortes por suicídio, sendo 79% homens e 21% mulheres.

Mais uma vez, foi atentado para o fato da vulnerabilidade dos adolescentes ao suicídio. Entre as causas, estão dificuldades escolares, abuso físico ou sexual, bullying etc. Ele lembrou do caso recente do jogo Baleia Azul, que levou muitos jovens ao suicídio no Brasil e no mundo.

Remus também desmistificou alguns clichês sobre o tema. Um deles é questionar a real intenção do suicida. “A maioria dos que pensam em se matar têm sentimentos ambivalentes”, disse. Outro mito é de que a melhora após uma crise significa que o risco acabou. Na realidade, muitos suicídios ocorrem num período de melhora, quando a pessoa tem a energia e a vontade de transformar pensamentos desesperados em ação autodestrutiva.

Luto

A psicóloga Rosangela Leoni, que comanda o grupo de apoio Casulo, falou sobre luto. O nome do grupo, que foi criado em São Paulo em 2001, se deve ao processo de transformação e ressignificação causado pela perda de um ente querido.

Segundo Rosangela, as reuniões são abertas, mas o grupo no Facebook é fechado, em função dos depoimentos ali contidos.

“Particularmente em relação ao suicídio, as pessoas que ficam sentem muita culpa. Os familiares precisam muito desse apoio”, disse. Ainda segundo a psicóloga, apesar de esse assunto vir à tona nos últimos anos, muitas pessoas ainda preferem se calar.

Perguntas

No final do evento, o público fez perguntas aos psicólogos.

Ao responder sobre o impacto de séries como 13 Reasons Why, Galvão afirmou que “é preciso ter cuidado ao contextualizar o tema, já que os adolescentes, como é o caso da série, são influenciáveis”. Essas obras são negativas quando são “nostálgicas” ou idealizadas, e positivas quando levam informação à audiência.

Outra pessoa questionou a autenticidade do pedido de ajuda de um potencial suicida. Remus respondeu que não podemos deixar de ouvir esse e outros sinais. “De um certo ponto de vista, a tentativa é um suicídio que não deu certo. No caso de suicídio, cachorro que late, morde”, disse.

Plantões de atendimento

Durante o mês, a Câmara Municipal de Itatiba fará a iluminação amarela do Palácio 1º de Novembro, em alusão ao tema. A Casa também disponibilizará um canal de atendimento psicológico por telefone a quem estiver precisando de ajuda. O número é o (11) 4524-9612. Os plantões serão realizados às terças e quintas-feiras, das 14h às 17h.

Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. Ocorre no mês de setembro, desde 2015, por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações. A iniciativa da campanha no Brasil é do Centro de Valorização da Vida, Conselho Federal de Medicina e Associação Brasileira de Psiquiatria.