Semana da Consciência Negra da Câmara é marcada por exposição e palestras

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A Câmara Municipal de Itatiba realizou sua Semana da Consciência Negra. Exposição e palestras integraram o evento destinado a lembrar a importância da cultura negra na cidade, marcada especialmente pelo Dia da Consciência Negra (20).

Nossa cultura, força ancestral

Na segunda-feira (18), a professora Luciana Henrique abriu a semana com a palestra “Nossa cultura, força ancestral”.Luciana é professora de educação infantil, psicopedagoga e artista, além de coordenar o Coletivo Cultural Campo dos Sonhos e o Caenf – Centro de Artes e Educação Não Formal de Itatiba.

“Na ocasião da Lei Áurea, os escravos não tiveram a menor estrutura para ter uma vida digna, ao contrário do que ocorreu em países como os Estados Unidos, o que ocasionou na favelização”, disse. Luciana também utilizou a contação de história para passar a mensagem de que todos somos iguais, independentemente da cor da pele.

Além disso, a palestrante compartilhou histórias pessoais, além de ressaltar a busca pela identidade negra. Ela leu o texto “Deus Negro”, de Neimar de Barros. Também foi exibido o vídeo “Melanina Sim: Racismo e Estética Negra”, que mostra o trabalho do fotógrafo Luiz Ferreira, dedicado a produzir imagens que valorizem a estética negra e ajudem no combate ao racismo. Ao final da palestra, todos foram convidados a cantar e “batucar” a música “Marinheiro só”, acompanhados do percussionista e capoeirista André Braga.

Em seguida, foi inaugurada no Espaço Dito Pinhá a exposição “Nossa cultura, força ancestral”, de Luciana e Agatha Rouwena. Até o fim do mês o público poderá conferir a mostra, que reúne pinturas com diversas técnicas, além de um vestido que remete a uma rainha africana.

Criando crianças pretas

Na terça-feira (19), foi a vez da palestra “Criando crianças pretas”, ministrada pela jornalista Paula Batista e pela publicitária Deh Bastos. Também participaram da discussão: Cleide Neves – psicóloga e mantenedora da Educafro – Região de Itatiba e Bragança Paulista; Diva Oliveira – engenheira Civil e bacharel em Direito; Laís Fleury – assessora parlamentar e bacharel em Direito; Alessandro Nunes – embaixador das religiões de matrizes africanas pela Alesp; e José Roberto Barbosa – mestre em Antropologia e membro do Conselho de Educação Quilombola do Estado de São Paulo.

O projeto “Criando crianças pretas” (@criandocriancaspretas) apoia um diálogo aberto sobre racismo e criação sem preconceito. Em menos de quatro meses, já alcançou milhares de pessoas e chamou a atenção de personalidades, estudiosos e influenciadores.

As palestrantes começaram afirmando que as crianças aprendem a ser racistas devido à estrutura da sociedade, que só é reproduzida por elas. Elas também questionaram onde estão os negros de Itatiba, além de falar da importância dos pequenos gestos para combater o preconceito no cotidiano.

Diva Oliveira lembrou que o Brasil foi o último a abolir a escravidão e que isso está intrinsicamente ligado ao racismo sofrido pelos negros. Ela cobrou a implantação da Lei Federal 10.639/2003, que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, além de ações efetivas do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

Cleide Neves ressaltou a importância de orientar as crianças para um futuro mais igualitário. Ela destacou a divulgação da Lei 12.288/2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, além de discussões a respeito da representatividade e identidade. José Roberto, que é descendente do Quilombo Brotas, em Itatiba, lembrou da importância desses espaços de resistência e cultura.

Laís Fleury salientou a importância de empoderar as crianças e adolescentes negros, dando voz a eles. Ela também falou da situação do Parque San Francisco, onde vive, na qual os negros são tratados de maneira diferente por viverem em uma área periférica da cidade.

A primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Mayara Lopes, falou sobre sua vivência com mãe e padrasto negros, que sofreram preconceito por ter uma filha branca. “Quero que as minhas irmãs tenham as mesmas oportunidades que eu tive e que não sejam tratadas diferente pela cor da pele”, afirmou.

Ao final do evento, as palestrantes agradeceram ao público por ocupar esse espaço na cidade.

Empoderamento negro e viés inconsciente

Sexta-feira (22), ocorreu a palestra “Empoderamento negro e viés inconsciente”, ministrada pela professora Marilis Rissato, que também é pedagoga e coordenadora do Caenf – Centro de Artes e Educação Não Formal de Itatiba.

O evento começou com a declamação do poema “Gratidão negra”, de Murilo, aluno da E.E. Prof. Antonio Dutra e aluno de Marilis. Em seguida, a palestrante introduziu o conceito do “viés inconsciente”, que pode ser traduzido como “preconceito inconsciente”.

Ela exemplificou cinco tipos de vieses inconscientes: afinidade (quem se parece conosco, seja por gênero, raça, idade ou história de vida, entre outros); percepção (reforçamos estereótipos definidos por influência da sociedade); confirmatório (procuramos informações que confirmem nossas hipóteses); efeito auréola (preferência por apenas uma informação positiva da pessoa, o que nos leva a avaliar positivamente o restante das informações); efeito de grupo (seguimos o padrão de um grupo. A pressão colocada pode fazer com que todos busquem a mesma ideia).

“Todo mundo tem algum tipo de preconceito. Temos que reconhecer que temos vieses inconscientes e pedir que os outros nos apontem no momento em que demonstramos sua influência. Também é importante buscar interagir com pessoas diferentes do nosso perfil, exercitando a empatia”, disse Marilis.

Por fim, a professora convidou o público para o sarau “Fazendo artes”, que ocorrerá no dia 14, às 10h, no ginásio Valdemar Corcelli, no Parque San Francisco. Na ocasião, será inaugurada a sala do Caenf.