Sobreviventes do ataque à bomba atômica em Hiroshima compartilham experiências em palestra

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Evento reuniu estudantes de diversas escolas do município

A Câmara Municipal de Itatiba, em parceria com a União Cultural Nipo-Brasileira de Itatiba – Nibrait, realizou, nos últimos dias 12 e 19 de setembro, a palestra “Sobreviventes de Hiroshima”. Os japoneses Takashi Morita, Kunihiko Bonkohara e Junko Watanabe contaram suas experiências no ataque à bomba atômica na cidade de Hiroshima.

O evento, realizado no Plenário Vereador Abílio Monte, foi voltado à comunidade escolar. Compareceram os alunos do Colégio Da Vinci, EMEB Professora Eliete Aparecida Sanfins Fusussi, Colégio Objetivo, Escola Estadual Professor Antônio Dutra, Colégio Anglo, ETEC Rosa Perrone Scavone e EMEB Anna Abreu.

A palestra é parte da programação ligada à exposição “Hiroshima e Nagasaki: Os Limites da Barbárie e as Lições para a Humanidade”. A mostra, que reúne painéis e maquetes, marca os 74 anos do bombardeio das cidades japonesas, ocorrido em agosto de 1945. O público pode conferir a exposição até dia 27.

Confira alguns trechos dos relatos compartilhados pelos sobreviventes na palestra:

Takashi Morita: “Eu era um policial de 21 anos quando a bomba atômica atingiu Hiroshima. O ataque aconteceu de manhã, em um dia bonito de sol. Lembro-me do barulho de explosão, do clarão, e depois de uma leve chuva cair sobre a cidade. A sensação era de que eu estava no inferno. Eu me machuquei muito, meu corpo ficou todo queimado, meu cabelo caiu. Perdi muitos amigos nessa tragédia. Quando vim ao Brasil, fui muito bem acolhido. Hoje tenho 95 anos e estou muito bem. Nós, japoneses, desejamos que atrocidades como esta nunca mais aconteçam. O mundo precisa de paz”.

Kunihiko Bonkohara: “Eu nasci na província japonesa de Shizuoka, na costa central do Pacífico – terra que abriga o Monte Fuji, o pico mais alto do Japão, com 3.776 m de altura. Em março de 1945, mudei com minha família para Hiroshima. A cidade tinha 360 mil habitantes, na época. Na manhã da tragédia, minha mãe tinha saído com minha irmã. Eu fui com meu pai ao seu escritório. Eu era o filho caçula. De repente, vi um clarão. O epicentro da bomba aconteceu há dois quilômetros de onde estávamos. Tudo foi aos ares. Depois, ficou tudo escuro e choveu. Quando saí com meu pai para procurar minha mãe e irmã, pudemos ver melhor a destruição na cidade. Além dos corpos queimados, os sobreviventes andavam sem rumo, suplicando por água, por socorro médico. No rio e no mar, muitos corpos boiando. Eu me lembro como se fosse hoje toda a experiência que vivi embaixo da bomba atômica. Depois disso, soldados americanos e australianos entraram na cidade e montaram cercos, impedindo o acesso da população a vários lugares. Dos 360 mil habitantes, aproximadamente 140 mil morreram na tragédia. Para piorar a situação da cidade, em setembro do mesmo ano, o Japão passou por dois tufões. Em 1961, vim ao Brasil, sozinho, com apenas noventa dólares. Até os 30 anos de idade, sentia minha saúde muito debilitada, contraí tuberculose. Depois, passou. A estimativa de vida de quem foi exposto à bomba era de 2 anos. O que me preocupa ainda hoje é o perigo nuclear. Muitos países estão realizando testes. Muitos deles têm usinas nucleares, incluindo o Brasil. E não se sabe muito bem como e onde são armazenados os lixos radioativos. Por isso, temos que ficar atentos. O que aconteceu, jamais pode se repetir”.

Junko Watanabe: “Eu tinha dois anos quando a bomba caiu em Hiroshima. Por ser muito nova, não tenho memórias claras dos acontecimentos. Porém, meus pais contam que, por conta da tragédia, eu desenvolvi muitos problemas de saúde e minha família achou que eu não fosse sobreviver. Aos 20 anos, vi um cartaz sobre imigração para o Brasil. Meu coração bateu mais forte. Em 1967, mudei para cá, em uma viagem de 45 dias de navio. Quando adulta, retornei à Hiroshima – aí é que me dei conta de tudo que a cidade, minha família e amigos sofreram com o ataque à bomba. A radiação está no corpo, na mente e no espírito de todos que viveram ali. Ela é invisível e muito perigosa. Eu estou viva, mas sigo com medo dos efeitos da radiação em mim”.

Perguntas

Após os relatos, os alunos e o público presente tiveram a oportunidade de fazer perguntas aos sobreviventes.  A aluna Ana Beatriz, da EMEB Eliete Fusussi, perguntou se o mundo pode viver de novo uma tragédia como esta. Tanto Junko quanto Kunihiko acham que não.

Em resposta a uma indagação da sra. Neide, que perguntou sobre discriminação após a imigração, Junko respondeu: “Sofri preconceito por conta da radiação a que fui exposta. Inclusive, pensei que nunca conseguiria me casar e ter filhos. Graças a Deus, estou contente ao lado da minha família aqui no Brasil”.

O professor de História, Carlos, da EMEB Anna Abreu, ressaltou a importância da palestra: “Hoje foi um dia muito especial para todos os alunos aqui presentes. Nós aprendemos a ter sentimentos por esta história. Eu espero que, depois dessa vivência, os jovens pensem em um futuro de paz”.

A aluna Gabriele, da ETEC Rosa Perrone Scavone, perguntou aos palestrantes como foi a adaptação deles no Brasil. Em resposta, Takashi disse: “Cheguei com minha esposa e duas crianças. Me senti muito acolhido. O Brasil é um paraíso”.

Programação

Com o objetivo de envolver a comunidade escolar no tema, palestras e oficinas estão sendo realizadas na Câmara. Confira os próximos eventos:

  • No dia 25 (quarta), Hiromi Kamakura (membro da Nibrait Itatiba) ensina a confeccionar origamis em forma de tsurus (ave sagrada japonesa). As oficinas serão realizadas no refeitório da Câmara. Serão disponibilizados 40 lugares por data. Pede-se inscrição prévia pelo e-mail: marivaninascimento@camaraitatiba.sp.gov.br
  • No dia 26 (quinta), Luciane Gomes ministra a palestra “Neta de Hiroshima”, às 19h30, no Plenário Vereador Abílio Monte. A entrada é gratuita.